As empresas não gostam de usar cartões corporativos para pagar os hotéis em que hospedam os seus funcionários. "A percepção da empresa é que ela perderia o controle sobre os gastos, mas quem trabalha nesse meio sabe que a realidade é oposta. A empresa ganha controle sobre as informações reais, o que foi gasto. É um obstáculo cultural", conta Walter Teixeira, conselheiro da Associação Brasileira dos Gestores de Viagens Corporativas (ABGEV). O ônus dessa rejeição ao cartão corporativo vai para a conta das agências de viagens, que só recebem dois dias depois de terem feito o pagamento da hospedagem.
Uma das agências que vive esse dilema é a Tour House, especializada em organizar as hospedagens de várias empresas. Ela ainda não conseguiu convencer as corporações da importância do uso do cartão corporativo para pagar os deslocamentos a trabalho.
O problema está no intervalo que há entre quando a agência paga o hotel e as despesas dos funcionários e quando a empresa paga a agência pelo serviço. Os hotéis, de acordo com Carlos Prado, presidente da Tour House, levam mais de duas semanas para enviar as faturas detalhadas, e nesse período ele tem de encarnar uma instituição financeira.
"Até fazer todos os processos internos e mandarmos para o financeiro das empresas, chega o vencimento, eu pago o hotel, mas não recebi ainda. Isso acontece em 80% de todas as hospedagens que fazemos, infelizmente. E o pior é que encarece nossa operação e nós temos que repassar o custo para o cliente. Se usássemos mais o cartão corporativo, daria para economizar de 3,5% a 5% do preço, sendo bem realista", relata Prado.
Na prática, o cartão corporativo funciona como um cartão de crédito de pessoa física, porém utilizado por funcionários em viagens a trabalho. Não há nem a necessidade de dar um cartão de plástico para a pessoa, e sim apenas um código que ela irá utilizar nos hotéis, entre outros gastos. O sistema assim, com um cartão virtual, foi concebido justamente para convencer empresas de que os funcionários não irão abusar para fins pessoais.
"A empresa tem rejeição ao plástico na mão do cliente porque acha que ele vai usar para coisas particulares. Mas é questão de estabelecer procedimentos, ter política bem clara. Trabalho com executivos que são proibidos de comprar qualquer coisa durante as hospedagens. Eles pagam táxi, refeições e hotel sempre com o cartão corporativo de acordo com o orçamento que a empresa tem. Ele só tem que assinar", acrescenta.
Rejeição: por quê?
O receio em aderir ao cartão corporativo não é um "privilégio" brasileiro. De acordo com profissionais envolvidos nessa área, toda a América Latina vive o mesmo momento em relação a esse tipo de serviço, e mesmo em regiões economicamente mais desenvolvidas, como Estados Unidos e Europa, ainda há um índice de rejeição a ser contornado.
Atualmente, nas contas do empresário Walter Teixeira, que também atua no segmento com uma agência própria, existem 18 mil empresas que usam o cartão virtual para pagamento de hotéis. Na projeção dele, é possível reduzir os custos em cerca de 15%, por eliminar falhas como o "empréstimo" que a Tour House tem de fazer.
"Apostamos que o cartão corporativo vá se estabelecer porque há toda uma parafernália, documentações, custos bancários, que acabam onerando o processo como um todo. Será muito normal, como já acontece em países mais desenvolvidos, utilizar o cartão para que a empresa tenha controle total e pague tudo de uma vez", prevê.
Fonte: Época Negócios